Caros amigos, companheiros de jornada,
Estamos vivendo tempos que exigem de nós mais do que a simples observação.
Há um silêncio que se impõe, uma passividade que se instala, enquanto uma violência sutil, mas brutal, tenta se legitimar.
Falo da Proposta de Emenda à Constituição da Anistia. E, como o vizinho que bate à porta de Martin Luther King Jr. à meia-noite, a História bate à nossa porta neste momento, e precisamos responder.
A batida não é de entretenimento, não é um espetáculo para ser consumido e esquecido. É um chamado para o pão da justiça.
Eu acuso os arquitetos desta Proposta.
Não são acusação de pessoas, mas de um ato de traição. Traição à memória de todos aqueles que perderam suas vidas em nome da democracia. Traição à lei, à decência e ao mínimo de respeito pelo processo eleitoral que eles mesmos juraram proteger.
Eles tentam lavar as mãos, varrer para debaixo do tapete o ódio, a violência, a destruição do patrimônio e, acima de tudo, a tentativa de desestabilizar nossa frágil democracia. O que buscam não é a paz, mas a impunidade. O que defendem não é o perdão, mas a conivência.
Eu me recuso a ser plateia. Eu me recuso a ser cúmplice.
Como nos ensinou Martin Luther King Jr., há um momento em que o "sim" precisa ser dito, e outro em que o "não" se torna imperativo. A permissividade com o erro, a condescendência com a insanidade, a tolerância com o desrespeito à lei, é um veneno que corrói a base de uma nação.
A PEC da Anistia não é um erro político; é um erro moral, uma ferida aberta que sangra em nossa história.
Por isso, digo com a força da poesia de Chico César: eu não sou seu entretenimento. Não somos a diversão de uma política mesquinha. Somos a ponta da espada da história, transformados em vozes que ressoam no pescoço dos fascistas. E dos neutros.
Sim, dos neutros. Porque a neutralidade em tempos de injustiça é a maior traição. É a recusa em responder à batida na porta à meia-noite. É o silêncio diante do grito.
Eles podem tentar nos calar, mas não podem apagar a história. A verdade não pode ser anistiada. A justiça não pode ser negociada. Nosso dever é nos posicionar, falar em alto e bom som, e não permitir que a insanidade de alguns se torne a norma de uma nação.
Vamos responder a essa batida na porta. Não com violência, mas com a convicção de que a justiça prevalecerá. Com a certeza de que a lei deve ser igual para todos.
Com a esperança de que nossa democracia, apesar dos perigos, ainda é forte o suficiente para se defender.
Rui Alvacir Netto
Brasileiro e Cidadão







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